Um metro e meio de distância, a bala de prata!

Placa

Placa afixada em uma avenida de São Paulo.

Às vezes eu me pergunto de onde o governo brasileiro tirou essa lei dos 1.5 m de distância que os carros devem manter dos ciclistas.

Antes que comecem a me apedrejar aqui vou deixar claro que eu apóio qualquer tipo de ação que vá beneficiar o ciclismo.
Já fui vítima de um acidente de trânsito onde um ônibus tirou “uma fina” de mim e eu caí da bike. Claro que o cara fugiu etc. Na ocasião fiquei pensando na estórinha dos 1.5 m… na boa, isso NUNCA vai colar!
Já estou vendo os comentários raivosos sobre isso, mas vamos em frente.

Deixe-me antes mostrar uma imagem.

Londres

Ciclista no trânsito de Londres. Imagem do Google Maps.

Isso é o trânsito de Londres. “Ah porrah, tu queres comparar os ‘lordes’ britânicos a nós, uma sub-raça de europeus vindos de Portugal, Itália, Espanha, etc? Um bando de latinos escrotos, sem capacidade para nada a não ser a corrupção?”. Só pode ser isso que as pessoas pensam. Porque raios sempre que se fala que lá não sei onde, podendo ser uma comunidade Haitiana em meio ao caos daquele país, tem isso ou aquilo alguém vem dizer “ah, mas aqui é Brasil”. Bem amigão, então para de ler isso aqui e vai ali pro cantinho das lamúrias.

Na imagem o ônibus está/vai estar/esteve a 1.5 m de distância do ciclista?
Não é a distância entre as partes que importa e sim a educação/o respeito que um tem pelo outro. O motorista do ônibus SABE que o ciclista DEVE estar ali e que é DIREITO DELE estar ali. O ciclista sabe do seu direito e DOS SEUS DEVERES  também.
Assim como em Paris nos trechos da cidade onde não há ciclovia/ciclofaixa as bicicletas devem andar pela faixa de ônibus! Pois é, junto aos “monstros”. Lá os ônibus seguem o ciclista até determinado momento onde o corredor de ônibus tem sua largura alterada, então o ônibus passa pelo ciclista. E não, não é a 1.5 m de distância. E também não é a 60 km/h como os ônibus andam no Brasil (isso porque estou sendo generoso).

Não conheço lugar algum onde tenha essa lei dos 1.5 m. Para mim isso é uma manobrinha bem escrota do governo e uma forma de dizer “se vira”. Assim ele não tem que fazer ciclofaixas para mesclar o trânsito de motorizados com as bicicletas. Claro, pois isso daria um trabalhoooooooooooo. Então só é dito: bicicletas pelos bordos das vias e todos os motorizados que passem a 1.5 m de distância do ciclista. Cadê a campanha para isso funcionar? Tem gente que tem carteira a 20 anos e nem sabe que o código mudou em 1900 e guaraná de rolha. Cadê a fiscalização disso? Se nem mesmo nos blocos de multas de São Paulo tem a opção “tirou fina do ciclista”. Placas e pinturas no pavimento das vias já seria querer muito né?

Acho que ficar marretando nessa maldita tecla da distância é uma perda de tempo e energia lastimável.

Se tu parares para pensar, em que rua/avenida tu tens espaço para não andar colado ao meio fio (a uns 40~60 cm do meio fio) e sobrará espaço na via para os carros seguirem passando por ti respeitando os 1.5 m?

Levando em conta então que tu tens 50 cm entre a bicicleta e o meio fio, mais a largura do ciclista, que podemos calcular uns 70 cm para que não fique muito justo, e mais 1.5 m de distância, o ciclista ocupará “apenas” 2.7 metros da largura total da via.
Pense que um carro como o meu, hatchback, tem 1.66 cm de largura e em qualquer via (como aqui no Rio de Janeiro, uma faixa da Av. Presidente Vargas, ou da Linha Vermelha) deve ter algo em torno de 2.5~3 metros de largura nas faixas de rolagem. Um ciclista representaria UMA FAIXA INTEIRA! Isso se não tiver um ciclista ultrapassando outro, aí já seriam duas faixas.
Se a Av. Paulista tem 4 vias, sendo 3 para carros, pelo meu cálculo o correto então seria uma via só para bicicletas, duas para carros e uma para ônibus(?).

Isso inviabiliza o trânsito em qualquer grande avenida (seja a Paulista (São Paulo), Presidente Vargas (Rio de Janeiro), Assis Brasil (Porto Alegre), etc).

Vai me dizer que no alto do seu cicloegoísmo tu pensaste: que se dane, o carro que me siga até onde der para ele passar a 1.5 m de distância de mim!
Se todo veículo mais lento for IMPEDIR que os demais sigam, ferrou!

O que de fato ajudaria muito seria termos campanhas promovendo a educação no trânsito e explicando ONDE os ciclistas devem estar (nos bordos das vias e ciclofaixas – além das ciclovias claro), que a bicicleta é um veículo, que mais bicicletas significam menos carros no trânsito, etc. e uma fiscalização descente PUNINDO os infelizes que desrespeitarem as leis.

Não somos nós ciclistas que devemos ficar discutindo no trânsito sobre nossos direitos nos pondo em situações de risco, como a que acabou por findar a Juliana Dias em São Paulo. A POLÍCIA ou a GUARDA MUNICIPAL/CONTROLADORES DE TRÂNSITO (vejam, isso até existe! Não descobri para que eles servem aqui no Rio a não ser ficarem apitando e balançando a mãozinha como se por mágica o trânsito fosse se resolver com apenas isso).

Se os governantes pararem para pensar, pra eles é um ótimo negócio!
Vão nos roubar dinheiro as pampas em campanhas hiper|mega|ultra|superfaturadas, vão criar MAIS uma linha na fábrica de multas do Estado quando alguém desrespeitar as leis, mais um cabide de empregos para criação do órgão de controle do tráfego de bicicletas “bípedes” tripuladas por “seres humanóides” nas cidades “DO UNIVERSO BRASILEIRO” não sei de que mais (tem que ter um nome foda!) com cabeções indicados (CC), claro, e o resto concursado (e rolará muito dinheiro em concursos para essas vagas), mais dinheiro desviado nas obras nas cidades para repor a sinalização toda e remarcar pistas, etc.
Sério, é muita grana para eles “ganharem” com isso. Fora que o cara que fizer vai reeleger umas 15 vezes. Estão esperando o que? Cadê o Partido Verde para puxar esse bonde?

Se tivermos a equação “campanha educativa + ciclovias e ciclofaixas + fiscalização” bem equilibrada aposto que não teríamos tantas mortes nem mesmo acidentes não letais (como o meu) acontecendo aos montes por ai.

E tem gente por aí fazendo placas (maneiras até) como essa da imagem título deste post ou querendo dar lição de moral em motoristas pelos seus benditos 1.5 m de distância.
Amigo, que tal ao invés de querermos 1.5 m de DISTÂNCIA não pleiteamos NOSSO ESPAÇO em definitivo? Seja ele numa faixa de 1 metro de largura em ruas ou avenidas (ciclofaixas) ou a 30 cm de um veículo motorizado qualquer separados apenas pelo RESPEITO de AMBOS os lados?

Não será o 1.5 m a bala de prata que salvará os ciclistas. Até pode ser que isso um dia seja respeitado, mas continuarão a achar que nós não devemos estar ali, no trânsito DELES, e as demais barbáries continuarão a acontecer. Somente com campanhas e punição exemplar iremos chegar a algum lugar. E não, não somos geneticamente inferiores aos londrinos ou parisienses, o que falta aqui é ação do governo e PRESSÃO DA POPULAÇÃO SOBRE ELES!

Todos são bem-vindos a comentar o post 😉

Sobre jeanjmichel

Analista de sistemas, casado, pai de gêmeas, ciclista amador, professor Padal nas horas vagas e viciado em tecnologia ;)
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3 respostas para Um metro e meio de distância, a bala de prata!

  1. Antonio Teodoro disse:

    Concordo com o seu ponto de vista e suas explicações. O mais importante é a conscientização de todos, pois é impossível manter-se a 1,5 m de qualquer bicicleta. Devemos é tentar disceminar a cultura do ciclismo como meio de transporte e cobrarmos punições severas e exemplares para aqueles que desrespeitam o trânsito como uim todo.

  2. Vejo uma outra opção para o ciclista. Uma opção, no meu modo de ver, muito interessante. Eu diria que até mais adequada do que essas que estão sempre sendo discutidas. É simples. Pode até parecer um tanto quanto absurda para alguns, mas não é. E é bem inteligente. Pelo menos foi o que eu percebi quando vi como funciona na prática. Bom, a solução seria que o ciclista pudesse pedalar na calçada. Isso mesmo, na calçada, junto aos pedestres. Vi isso em Tóquio. Pedalei por lá. Vi como funciona (e funciona muito bem) na prática. Claro, mesmo se tratando de um povo extremamente educado como o japonês, não podemos dizer que isso só funcionaria por lá. Acho que não. Tudo só depende da conscientização da população. Quando estive lá, soube que o trânsito era muito complicado em Tóquio. Mas eles resolveram isso. Hoje o trânsito flui em Tóquio, uma cidade tão grande como São Paulo. Eles têm um metrô eficiente, ônibus e táxis na quantidade certa. Mas somente isso talvez não fosse suficiente para eliminar o problema. O fato mais importante é que os japoneses também estão dispostos a andarem a pé….ou de bicicleta. Lá se vê muitos executivos pedalando para o trabalho. Aqui no Brasil se um “executivo” vai para o trabalho de bicicleta, é mal visto. Curioso é que em Tóquio se pode pedalar tanto nas ruas quanto nas calçadas. É a ocupação racional, inteligente do espaço disponível. Foi assim que eles resolveram o problema dos congestionamentos: tirando pessoas das ruas, dos carros particulares e dando incentivos para elas andarem a pé ou de bicicleta. Aliás, os bicicletários estão esparrodados por todos os cantos do centor de Tóquio. Quando pedalei por lá, fiz questão de perguntar se era permitido pedalar na calçada. E me disseram que sim. Não vi nenhuma norma expressa (nem sei se existe), mas o fato é que eu vi muita gente fazendo isso. Reparei que as pessoas não ficavam me observando quando pedalava nas calçadas. Elas entendem que o espaço da calçada é também um direito do ciclista. Claro, para isso é necessário que o ciclista desenvolva uma velocidade adequada. Isso é óbvio. Parece haver uma espécie de “negociação” pelo espaço. E nem sempre o ciclista deve ceder passagem para o pedestre (no caso de o espaço não permitir a passagem de ambos, por exemplo). Tudo depende da “negociação”, daquela troca de informação visual que as pessoas fazem entre si. Se o pedestre está em uma condição mais favorável que o ciclista, por exemplo, ele vai ceder o espaço para o ciclista. Caso contrário, o ciclista cede o espaço. É uma cooperação mútua, cada um tendo a consciência de que o outro também precisa usufruir do espaço. O resultado disso tudo é uma melhor qualidade de trânsito, ganho de tempo, redução de custos, etc. Estamos muito atrasados em relação a esse padrão de comportamento, infelizmente. E não é só no trânsito. Lamentavelmente eu muitas outras regras de convívio social ainda estamos bem atrasados. Enquanto na França, por exemplo, nas escolas se discute o futuro profissional de estudantes de 13 ou 14 anos, por aqui no Brasil nas reuniões de professores ainda se discute como conseguir disciplina dentro de sala de aula. Enquanto em vários outros lugares do mundo a bicicleta tem até mesmo mais privilégio que os automóveis, por aqui não há espaço para elas. Hoje já não tenho tanta esperança mais. Se não resolvemos até hoje, acredito que dificilmente vamos resolver. E para se resolver isso, depende de mudanças de comportamento, de postura, de valores, etc. Depende de uma conscientização maior, depende de cada um abrir mão de seu egoismo em prol do direito do outro, para que no final todos saiam ganhando. Prefiro levar a bicicleta para lugares mais longes, bem distantes de centros urbanos. Em meios urbanos, já não pedalo mais. Tão bom seria se importássemos o exemplo de Tóquio, que é uma solução inteligente. Mas para isso é preciso uma coisa que nós não temos: EDUCAÇÃO.

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